
É preciso buscar asas onde, de repente, só vemos abismos. Procuro, desesperadamente, o céu que hoje não vejo nos teus olhos. Resisto a deixar de acreditar nas flores dessa primavera que chega perdida em ventos, de um cinza que se nega a partir. Oscilo entre o que queria esquecer e a verdade me faz sempre querer lembrar. Luto para não descrer de tudo, para não duvidar do que me foi autêntico desde o primeiro momento. Hoje, todas essas coisas já não me são tão claras, são mais como aquelas que nunca foram, como tantas outras que nunca serão. Tolice tentar entender a fraqueza humana. Explicar o que não tem justificativa. Se é verdade que “decepção não mata, ensina a viver” sigo tentando aprender, embora a lição me pareça, agora, incompreensível...
Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento.
Mas não de você, se sempre foram de ternura nossos encontros
e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos
reconhecíamos precários, carentes, incompletos.
Meras tentativas, nós. Mas doces.
Por que então assim tão de repente e duro, por quê?
( Caio Fernando Abreu)